Uma moeda de ouro do século 7º, considerada a mais antiga do tipo já encontrada em East Anglia, foi descoberta por um detectorista amador em um campo nos arredores de Norwich, no leste da Inglaterra. O artefato combina símbolos cristãos e pagãos em um momento de transição religiosa na história britânica.
A peça, menor que uma unha, foi analisada por especialistas do Serviço de Patrimônio Histórico de Norfolk. Segundo eles, a moeda foi cunhada entre os anos 640 e 660 d.C., período em que o cristianismo começava a suplantar os antigos cultos nórdicos entre os anglo-saxões.
Um dos lados da thrymsa, um tipo de xelim anglo-saxão primitivo, apresenta um homem dançante, de cabeça desproporcional, com as pernas cruzadas e usando um diadema de estilo romano. Seu braço esquerdo está erguido, segurando uma cruz cristã acima de um valknut — símbolo triangular ligado ao deus Odin, frequentemente associado a rituais fúnebres e à passagem para o além.
A justaposição dos ícones religiosos reflete um período de coexistência entre crenças. A sobreposição do símbolo cristão ao pagão pode indicar a tentativa de afirmação da nova fé sobre a antiga tradição local.
No verso, há um desenho que pode ser lido como uma cruz ou uma suástica — na epoca considerada um símbolo de sorte —, cercado por uma tentativa de inscrição em latim. A análise do entalhe mostra que o autor da matriz não era alfabetizado. As letras seguem o estilo romano, mas formam uma sequência sem sentido.
Feita com ouro de alta pureza, com teor estimado em até 60%, a moeda revela influência estética das moedas romanas, com adaptações regionais e religiosas. A iconografia semelhante já foi encontrada em urnas funerárias anglo-saxãs, sugerindo conexões simbólicas entre morte, fé e poder.
A peça foi achada no mesmo período histórico do sepultamento de Sutton Hoo, conhecido por conter objetos cristãos e pagãos lado a lado. O Museu do Castelo de Norwich demonstrou interesse em adquirir a moeda, que pode ser classificada oficialmente como tesouro, de acordo com nova legislação britânica voltada à preservação de achados de importância nacional.
Com pouco mais de um centímetro de diâmetro, a thrymsa condensa em sua superfície o cruzamento entre dois mundos — um que se despedia, outro que nascia.