Mais de 200 moedas sociais circulam em comunidades brasileiras, movimentando o comércio local e promovendo inclusão financeira. Criadas por associações, coletivos e bancos comunitários, essas moedas funcionam como complemento ao Real e não possuem status de moeda oficial.
Usadas em mercados, feiras, farmácias e pequenos comércios, elas incentivam a produção e o consumo dentro das próprias comunidades. Em muitos casos, substituem o dinheiro convencional em transações cotidianas. O objetivo é claro: manter a riqueza onde ela é gerada.
Experiências espalhadas pelo país
No Ceará, a moeda Palma, do Banco Comunitário Palmas, inspirou dezenas de iniciativas. No Piauí, municípios como São João do Arraial, Pedro II e Esperantina criaram moedas próprias — como Cocais, Opala e Esperança — para estimular o desenvolvimento local.
Na Bahia, a Concha circula desde 2005 em Simões Filho e Vera Cruz. Em Maricá (RJ), a moeda Mumbuca se tornou política pública. No Rio Grande do Sul, a Justo e o Tacuapi integram comunidades de Porto Alegre e Passo Fundo.
Como funcionam
Algumas moedas são impressas em papel, outras operam com cartões ou aplicativos. O valor costuma ser equivalente ao do Real, com paridade garantida por fundos comunitários. Em muitos casos, há bonificações: quem troca R$ 10, por exemplo, recebe R$ 12 em moeda social.
Além de facilitar o consumo, essas moedas reforçam a organização coletiva, geram trabalho e incentivam iniciativas solidárias. Algumas são usadas até em programas ambientais, onde resíduos recicláveis são trocados por créditos.
Regulação e reconhecimento
Embora não sejam reconhecidas como moeda oficial pelo Banco Central, as moedas sociais não são proibidas. Operam em um espaço legalmente possível, desde que não se apresentem como substitutas do Real.
Um projeto de lei (PL 4476/23) em análise na Câmara propõe regras para a emissão de moedas sociais digitais. A proposta prevê uso exclusivo em formato eletrônico, com lastro em Real e autorização prévia do BC. Bancos comunitários já existentes teriam que se adaptar.
Potencial e desafios
As moedas sociais fortalecem a economia local, reduzem a saída de dinheiro das comunidades e ampliam o acesso a serviços financeiros. Mas enfrentam dificuldades de gestão, limitações tecnológicas e falta de escala. A sustentabilidade depende da confiança dos usuários e da articulação com políticas públicas.
Mesmo com obstáculos, essas experiências seguem crescendo. Em um país marcado pela desigualdade e concentração bancária, as moedas sociais mostram que outras formas de economia são possíveis — mais solidárias, locais e inclusivas.