Arqueólogos descobriram em Senon, no nordeste da França, três grandes depósitos de moedas romanas enterrados dentro de antigas casas de pedra. Os vasos cerâmicos continham milhares de peças datadas entre o fim do século III e o início do século IV. O bom estado de conservação e o contexto intacto permitem entender como os moradores administravam o próprio dinheiro em um período marcado por reformas e instabilidade no Império.
Os vasos estavam colocados sobre pedras niveladas e instalados em fossas abertas no piso das casas. O cuidado no preparo indica que se tratava de poupança planejada, guardada para uso regular e não de um esconderijo feito às pressas. Em dois deles, moedas presas às paredes mostram que parte do montante foi acrescentada depois que os recipientes já estavam no lugar.
As escavações revelam que Senon tinha ocupação contínua desde a Idade do Ferro, quando o local era um assentamento gaulês de alta densidade. No período romano, o bairro recebeu ruas pavimentadas e casas de padrão elevado, com pisos de argamassa e sistemas de aquecimento sob o chão — sinal claro de moradores com recursos. Atrás das residências, havia cavas de extração de calcário, base de uma atividade que sustentou parte da economia local.
Os depósitos surgem nessa fase de prosperidade. A proximidade de uma fortificação romana, a cerca de 150 metros do bairro, ajuda a explicar por que valores tão altos foram guardados dentro de casa: havia confiança na proteção militar e na estabilidade local. O abandono dos tesouros se relaciona a um grande incêndio ocorrido no começo do século IV, que obrigou os moradores a sair às pressas.
Depois do incêndio, parte das casas foi reconstruída com materiais reaproveitados, inclusive peças de antigos prédios públicos. A recuperação durou pouco. Um segundo fogo, algumas décadas mais tarde, levou ao abandono definitivo da área, que virou campo e pomar até as obras modernas que motivaram a escavação.
Para a numismática, Senon oferece um conjunto raro: três depósitos completos, preservados no ambiente original. A análise detalhada das moedas deve indicar as oficinas de origem, a proporção de imitações e o ritmo de circulação na região. Esses dados ajudarão a entender como o dinheiro chegou, circulou e foi guardado em um dos pontos onde a cultura gaulesa e o mundo romano conviveram por séculos.