Ela tem o tamanho, o papel e até os elementos de segurança de uma nota de verdade mas não compra nada. Criada na França, em 2015, a cédula de zero euro rapidamente virou febre entre turistas e colecionadores na Europa — e depois, no mundo. Mesmo sem valor monetário, ela movimenta um mercado próprio e serve como ferramenta de marketing para atrações turísticas.
A ideia partiu do francês Richard Faille, conhecido por desenvolver lembranças em forma de medalhas comemorativas em parceria com a Casa da Moeda da França. Ao notar o sucesso das moedas personalizadas, Faille decidiu investir em uma lembrança ainda mais parecida com o dinheiro real: uma cédula. A proposta inicial era simples — criar um souvenir original para quem visita pontos turísticos na França.
Mas a nota ganhou o mundo. Em 2016, a Alemanha passou a emitir suas versões. Em pouco tempo, Espanha, Portugal, Bélgica, Luxemburgo e Suíça aderiram à ideia. Hoje, as cédulas de zero euro podem ser encontradas em diversos países, inclusive fora da Europa, como Estados Unidos, China, Rússia e Japão.
Turismo e colecionismo no mesmo papel
A principal função da cédula é turística. Com ela, museus, monumentos e cidades estampam seus símbolos e paisagens em uma lembrança durável e atrativa. A frente da nota traz marcos icônicos europeus, como a Torre Eiffel, o Coliseu e a Sagrada Família. O verso é personalizado de acordo com o local de venda, permitindo representar pontos específicos, como o Museu DDR, em Berlim, ou a harpa celta nas versões irlandesas.
Além dos turistas, a nota também conquistou colecionadores. Lançadas em tiragens limitadas e numeradas individualmente, algumas edições se tornam raras e valorizadas no mercado secundário. A semelhança com cédulas reais — papel de algodão, marca d’água, holograma, tinta UV, microimpressões e outros recursos — aumenta o apelo e a sensação de autenticidade.
Impressão autorizada e de alta qualidade
Apesar de não circularem como moeda, as cédulas são impressas com autorização do Banco Central Europeu (BCE). O BCE, porém, não emite nem distribui as notas. A produção é feita por gráficas especializadas, muitas delas responsáveis também pela impressão das cédulas reais, como a Oberthur Fiduciary, com unidades na França e na Suíça.
Essa autorização garante qualidade e segurança, o que diferencia as notas de zero euro de simples lembranças ou réplicas. Cada exemplar tem um número de série único e não pode ser confundido com dinheiro real, ainda que imite fielmente seu formato e visual.
Receita e visibilidade para atrações locais
As notas são vendidas em locais turísticos, geralmente por preços simbólicos, como €2. O valor arrecadado contribui com a manutenção de museus, monumentos e sítios históricos. Muitas vezes, essas instituições utilizam as vendas para financiar atividades culturais, reformas e projetos de divulgação.
A estratégia se mostra eficaz. A nota de zero euro combina apelo estético, fator de novidade e utilidade econômica. Ao mesmo tempo que serve de recordação para o turista, gera receita e promove o destino retratado. A possibilidade de personalização também permite que cada atração reforce sua identidade visual e histórica.
Um fenômeno global
Embora tenha nascido na Europa, a ideia já ganhou espaço em outras regiões. Países como Índia, Peru e Estados Unidos também lançaram suas versões. As regras e elementos podem variar, mas o conceito permanece: uma lembrança turística com aparência de cédula real, sem valor monetário, mas com valor simbólico e cultural.
Especialistas comparam o fenômeno à filatelia — o colecionismo de selos — ou à numismática, que envolve moedas e cédulas raras. Assim como esses itens, a nota de zero euro desperta paixão em colecionadores, embora alguns críticos vejam na multiplicação de edições uma estratégia puramente comercial.
Um futuro garantido
Com milhões de unidades já vendidas e novos lançamentos a cada ano, a nota de zero euro se consolida como um dos souvenirs mais criativos e bem-sucedidos do turismo recente. Seja como lembrança de viagem, item de coleção ou fonte de receita para instituições culturais, ela comprova que, mesmo valendo zero, pode gerar muito valor.