Isaac Newton é conhecido mundialmente como um dos maiores cientistas de todos os tempos. Suas descobertas no campo da física mudaram o rumo da ciência, e sua obra sobre a gravidade é referência até hoje. Mas o que muita gente não sabe é que Newton também teve um papel essencial na história do dinheiro. Ele ajudou a proteger as moedas britânicas de falsificações e fraudes — e uma das soluções que ele adotou foi o uso do serrilhado nas bordas das moedas.
No final do século XVII, a Inglaterra passava por uma crise séria no sistema monetário. As moedas da época eram feitas de metais preciosos como ouro e prata, e o valor delas vinha do peso do metal. Isso incentivou uma prática ilegal conhecida como coin clipping, ou seja, o ato de raspar pequenos pedaços das bordas das moedas. A raspagem era feita com cuidado, quase imperceptível a olho nu, e o metal roubado era depois derretido e vendido.
Com o tempo, essas moedas mais leves continuavam em circulação, mas já não tinham o peso original. O resultado foi uma enorme perda de confiança na moeda britânica. A economia sofreu, o comércio desacelerou e os cofres públicos perderam valor. Era preciso uma solução urgente.
Foi nesse cenário que Newton entrou em cena. Em 1696, ele foi nomeado inspetor da Casa da Moeda Real, em Londres. Embora fosse um matemático e físico de prestígio, Newton também era extremamente prático e tinha grande interesse por questões de administração pública. Quando assumiu o cargo, encontrou uma instituição desorganizada e ineficiente — e decidiu modernizar tudo.
Um dos principais desafios era acabar com a prática do coin clipping. Newton estudou o problema com atenção e buscou soluções técnicas para combatê-lo. Foi aí que ele percebeu o valor de uma inovação que já existia em outros países, mas ainda não havia sido aplicada com seriedade na Inglaterra: o serrilhado nas bordas das moedas.
O serrilhado consiste em criar marcas ou cortes regulares nas bordas das moedas durante o processo de cunhagem. Essas marcas funcionam como um “selo de integridade”. Se alguém tentar raspar a borda, o dano fica evidente. Não é mais possível retirar pedaços sem deixar marcas. Dessa forma, as moedas passavam a ter um mecanismo visual de segurança.
Embora Newton não tenha inventado o serrilhado, foi ele quem enxergou seu potencial e promoveu sua aplicação em larga escala no Reino Unido. Ele supervisionou a modernização das prensas de cunhagem, implantou processos padronizados e aumentou o controle de qualidade da produção. Sua gestão fez com que o serrilhado se tornasse regra nas moedas britânicas, o que reduziu drasticamente os casos de clipping.
Além do impacto técnico, o trabalho de Newton teve um efeito simbólico importante. O serrilhado passou a representar a integridade da moeda — um compromisso entre o Estado e o cidadão. A população voltou a confiar nas moedas, o comércio se fortaleceu e a economia britânica entrou em um novo ciclo de estabilidade.
A contribuição de Newton na Casa da Moeda é muitas vezes esquecida nas biografias mais tradicionais, mas ela é valorizada no campo da numismática. O uso do serrilhado se espalhou para outras nações e hoje é padrão em grande parte do mundo. Basta observar uma moeda de circulação comum para notar as bordas recortadas: um pequeno detalhe que carrega séculos de história e ciência.
Ao aplicar seu conhecimento técnico a um problema real, Newton mostrou que ciência e gestão pública podem andar juntas. O serrilhado, que poderia parecer apenas um acabamento estético, se revelou uma arma poderosa contra fraudes e falsificações. Até hoje, ele segue como um dos métodos mais eficazes para garantir a integridade do dinheiro.
Isaac Newton deixou um legado vasto na ciência, mas também um rastro de genialidade no universo das moedas. Seu trabalho na Casa da Moeda prova que a aplicação prática do conhecimento pode transformar até mesmo os menores detalhes — como a borda de uma moeda — em símbolos de confiança e segurança.