Fortaleza pré-histórica de 3 mil anos é descoberta na Croácia após venda ilegal de moedas
foto: Arheološki lokalitet Gradina kod Voćina FOTO: Kristijan Toplak / Virovotičko-podravska županija
Uma coleção de moedas de prata negociada no mercado ilegal levou arqueólogos à descoberta de uma fortaleza pré-histórica de grandes proporções no leste da Croácia. O sítio, com cerca de 3 mil anos, fica nas montanhas de Papuk e revela um nível de organização social até então desconhecido na região.
A fortificação está a 611 metros de altitude, no local conhecido como Gradina, próximo à vila de Voćin. A área passou a ser investigada após surgirem relatos sobre a extração ilegal de “moedas de prata de Voćin”, que começaram a circular em redes clandestinas de antiguidades na Europa.
As escavações são conduzidas pelo professor de arqueologia pré-histórica Hrvoje Potrebica, da Universidade de Zagreb, com os pesquisadores Franka Ovčarić e Luka Drahotusky-Bruket. Os primeiros levantamentos identificaram muralhas de pedra, estruturas defensivas e vestígios de ocupação permanente.
Segundo Potrebica, trata-se de um dos sítios pré-históricos mais bem preservados já encontrados na Croácia continental. “São algumas das muralhas mais visíveis e mais bem conservadas deste período na região”, afirmou.
Inicialmente, os pesquisadores acreditavam que o local fosse da cultura La Tène, do fim da Idade do Ferro, associada aos celtas, entre os séculos 2.º e 1.º antes de Cristo. A hipótese se baseava nas moedas de prata encontradas ilegalmente na área.
A escavação das camadas mais profundas mudou o entendimento sobre o sítio. Fragmentos de cerâmica indicaram que a ocupação principal remonta à Idade do Bronze Final, entre 1200 e 1000 antes de Cristo. A fortaleza é, portanto, cerca de 800 anos mais antiga do que se supunha.
A área murada tem cerca de quatro hectares. Ao cortar uma das rampas defensivas, os arqueólogos identificaram uma construção monumental em três camadas — terra compactada, pedra e solo batido — que chega a dois metros de altura na parte interna e até oito metros no lado externo.
Em alguns trechos, há também um muro interno de pedra seca, com mais de 1,5 metro de espessura. O grau de preservação é raro para fortificações desse período na Europa Central, onde as defesas costumavam ser feitas de madeira e terra, materiais que se deterioram com o tempo.
A arquitetura sugere um alto nível de planejamento e coordenação social. Para os pesquisadores, o uso intensivo de pedra indica acesso a recursos locais e capacidade de mobilizar grande quantidade de mão de obra.
Vestígios de casas, áreas de uso doméstico e restos de atividades cotidianas indicam que Gradina não era apenas um posto militar, mas um assentamento permanente, possivelmente um centro regional de poder.
A descoberta também chama atenção para os danos causados pelo tráfico ilegal de antiguidades. A retirada das moedas destruiu o contexto arqueológico original, essencial para a interpretação científica do achado.
Apesar disso, neste caso específico, a circulação das peças no mercado clandestino acabou levando os pesquisadores ao sítio. “Aqui, neste lugar, não esperávamos encontrar nada parecido”, disse Potrebica. “Em 25 anos de carreira, nunca vi algo assim.”
As escavações continuam e devem trazer novas informações sobre a organização social, a arquitetura e a vida cotidiana das comunidades que ocuparam a região muito antes da chegada dos romanos ou da formação dos Estados medievais europeus.