Mais de 45 países já adotaram o material plástico nas suas moedas, mas o Brasil, após testar a tecnologia em 2000, optou por soluções menos disruptivas
As cédulas de polímero avançam silenciosamente no cenário monetário global. Fabricadas com plásticos sintéticos como o polipropileno, elas duram mais, resistem melhor à sujeira e à umidade e são mais difíceis de falsificar. Ainda assim, sua adoção não foi linear. Países testaram, recuaram, adaptaram. O Brasil, por exemplo, experimentou o material em 2000, mas abandonou a ideia cinco anos depois.
A primeira tentativa real de substituir o papel ocorreu nos anos 1980, quando países como Haiti, Costa Rica e a Ilha de Man lançaram cédulas feitas com Tyvek, um polímero desenvolvido pela DuPont. Apesar do entusiasmo inicial, as notas falharam: a tinta borrava em ambientes úmidos e o desgaste comprometeu a durabilidade. O experimento foi descartado.
Nos Estados Unidos, o projeto DuraNote prometia mais resistência e segurança, mas também fracassou. Quase 30 países testaram o material. Nenhum o adotou. A virada veio com os australianos.
A Austrália, pressionada por ondas de falsificação após a adoção do dólar em 1966, iniciou uma parceria com a CSIRO, agência de pesquisa científica do país. Após anos de desenvolvimento, lançou em 1988 a primeira nota de polímero plenamente funcional: AU$ 10, comemorativa do bicentenário da colonização britânica. A tecnologia, centrada na introdução de janelas transparentes e dispositivos ópticos variáveis, se mostrou eficaz e durável.
Desde então, mais de 45 países migraram para o polímero, total ou parcialmente. Reino Unido, Canadá, Nova Zelândia e Romênia estão entre os que adotaram o padrão em todas as denominações. Segundo estimativas do setor, até 2030, mais 20 nações devem abandonar o papel.
O Brasil participou desse processo em 2000, com o lançamento da cédula comemorativa de R$ 10 em polímero. A nota trazia Pedro Álvares Cabral no anverso e elementos gráficos que celebravam os 500 anos do Descobrimento. Mas, ao contrário do caso australiano, a experiência não resultou em adoção contínua.
Em 2005, o Banco Central do Brasil divulgou um relatório técnico. Nele, apontava que a cédula de polímero não demonstrou "superioridade técnica ou vantagem econômica" diante das condições locais de manuseio, clima e estrutura bancária. Optou-se então por continuar com o papel tradicional, reforçado com verniz.
A decisão teve base pragmática. A mudança completa exigiria investimentos pesados em equipamentos, treinamento e ajustes logísticos. A aplicação de verniz oferecia ganhos de durabilidade e higiene com menor impacto na infraestrutura financeira.
Ainda assim, a nota de R$ 10 de polímero deixou um legado. Influenciou a criação da segunda família do real, com foco em acessibilidade (como marcas táteis) e maior proteção antifalsificação. Mostrou que, mesmo sem adoção definitiva, a experimentação controlada pode gerar melhorias reais.
Hoje, não há planos anunciados para retomar a produção de cédulas de polímero no Brasil. Mas o Banco Central mantém, segundo sua própria diretriz, o compromisso de "estar à frente dos falsários e alinhado com os avanços tecnológicos". Isso mantém a porta aberta para uma eventual reavaliação futura, caso custos caiam ou as ameaças de falsificação se intensifiquem.
O caminho do polímero, portanto, não é reto nem universal. A experiência internacional mostra que sucesso depende tanto de inovação quanto de adaptação. O que funcionou na Austrália ou no Canadá pode não funcionar no Brasil. Mas cada tentativa, mesmo que temporária, ajuda a moldar o futuro do dinheiro.